Beber nesta chamaque esgueira silenciosatensa e dúbiaafogueando a gargantaaquecendo o berro o gritoBeber esta chamasorvê-lanum só tragosenti-la derretendobarreiras Saber da chamado caudalda lavada lamavazando ardentenuma gota de palavrapendurada num canto da bocaprometendo o encontrona encruzilhada do amanhã.
A pedra quando chega acertaacerta bem no meio dos meus sonhosbem nos olhos da esperançae cegaa pedra quando chegaé fumaça em cachimbos improvisadosé cinco segundos de noia eufórica fúria em descontroleA pedra quando chega é demo-cráticaacerta brancos negros pobre e ricos Mas os poderes públicos só se sensibilizamquando a pedra no cachimbo acertaa vidraça das • Read More »
Uma batida surdadói ouvirViver viverpresa na gaiolapássaraJá vi o infinitofui constelaçãoAgora asteroide vagandoestrela cadentedividi-me em duasDividida para não ser subtraídafiquei inteira amolgada em cada pedaçochorei porque eu nascia– Miriam Alves, em “Cadernos Negros”. n. 25, São Paulo: Quilombhoje, 2002.
calei o verbo dor e o verso amormetáforas profundas não vieramemoldurei-me no silêncioNa cara da lua mais tardeexplodiugozodebochadoplenitude temporáriaO poema inscreveu-seEntrelinhas negritou metáforaOrouDesenhou palavras fortes nos espaços em branco
Eu sei:“havia uma faca atravessando os olhos gordos em esperançashavia um ferro em brasa tostando as costas retendo as lutashavia mordaças pesadas esparadrapando as ordens das palavras”Eu sei: Surgiu • Read More »
Ouve-se nos cantos a conspiraçãovozes baixas sussurram frases precisasescorre nos becos a lâmina das adagasMultidão tropeça nas pedras Revoltahá revoada de pássaros sussurro, sussurro: “é amanhã, é amanhã. Mahin falou, é amanha”A cidade toda se prepara Malês • Read More »
Calor afogueiaos pensamentos de espera. Quandoembalo na cama da noiteinsônia de séculos. Ouço ruídos de tamboressobressaltos alimentammeus pés Nos pensamentos de esperançaembalo na cama da noiteas dores de meu tempo Ouço vozesemanadas dos exércitos humanoscontidos. Na cama da noitemovimento minhas mãosembalo medos, espanto-mediante do conhecido Nos pensamentos de esperasolto minha rouca voz:bala de chumbo Nos • Read More »
Esconderei meu sofrimentonas entranhas do ventoguardarei as lágrimasno pote das nuvensreavaliarei as intenções da naturezaFarei das montanhasguardiãs de meus segredos Escreverei com um coriscoo fogo das emoçõesas verdades de hojepara não serem segredos de amanhã.
Mesmo que eu não saiba falar a línguados anjos e dos homensa chuva e o ventopurificam a terraMesmo que eu não saiba falar a línguados anjos e dos homensOrixás iluminam e refletem-mederramandogotasiluminadas de Axé no meu Ori
Estou a toque de máquina corro, louca, voo, suo a fumaça sou eu Estou a toque de nada vivo, ando como a comida envenenada e o comido sou eu estou a toque de selva os ferros torcidos, sacudidos dentro de uma marmita e a marmita sou eu Nego, mas vivo dizendo Sim a tudo que • Read More »
Tento decifrar-me mergulho-me calo acalento calores dilacerados Mergulho em você avolumo prazeres solitários broto emoções explícitas em lugares bem guardados
Colecionava amizadesPendura corrente de sorrisos estáticos No pescoçoOstentava tantos e tantosSorrisos-dentadurasPolia-os à noite com gotas de lágrimasRetidasUm dia o colar mordeu-lhe a jugular Jorrou-lhe rios de ausências
O sorriso gelaa porta do paraíso prometido A tarde cobre-se de friogritaesconde-se atrás doscasacosfaz esculpir aquela saudadedo lugarjamais percorrido. Escorrem feito sorveteas esperanças derretidasno ardor do querer.